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Como foi a minha experiência enquanto empreendedor da Believe Escola de Idiomas

  • Foto do escritor: Maxmilliano Reis
    Maxmilliano Reis
  • 1 de dez. de 2023
  • 9 min de leitura

Atualizado: 7 de set. de 2024

1 Como tudo começou


O ano era 2017. Fazia alguns meses que pensara em empreender. Estava exausto da rotina das viagens na Ernst & Young. Decidira que era a hora de mudar meu ramo de atuação profissional. Desde os remotos tempos da faculdade de Administração de Empresas, tivera imaginado abrir meu negócio.


Havia feito um processo de mentoria em carreira com a renomada Pollyana Guimarães , estrategista de marcas pessoais, com quem tive a honra de trabalhar na HomeCenter TendTudo. Foi um período de epifanias, tinha uma visão mais apurada de mim mesmo. Descobri que não somente gostava de aprender idiomas, mas também de ensiná-los. Naquela semana mesmo, liguei para um colega professor autônomo de idiomas. Perguntei a ele qual era sua experiência em ter seu próprio negócio. 


As referências que recebi, embasaram a ideia inicial da Believe Escola de Idiomas. Foram alguns meses de planejamento, investiguei o mercado, estudei o público-alvo em potencial e quais profissionais deveriam compor o quadro de colaboradores. Foram semanas de ansiedade e excitação. Especialmente porque o plano financeiro era desafiador, para não dizer limitador. 


Abrir seu próprio negócio dá trabalho, mas também muito medo e insegurança.

Foi importante a gestão do estresse nesse momento. Não tinha segurança de nada. Apenas uma ideia a explorar.  O fato de ser Administrador de Empresas (minha primeira graduação) me deixou mais confiante. Fui um aluno dedicado e estudioso. Era a oportunidade de aplicar os conceitos que havia aprendido. Foi por isso que decidi compartilhar como foi a minha experiência enquanto empreendedor a frente da Believe Escola de Idiomas. Sinto que é crucial ter novas narrativas na teoria do sucesso que é apregoada por ai, contrabaleceando as forças.


A elegria de um empreendedor iniciante e sua equipe.


2 Evasão escolar


Foram dois meses de planejamento e plano de negócios. Mais três meses de implementação e no início de 2018 a Believe Escola de Idiomas abria suas portas ao público. No primeiro semestre tivemos um total de 53 alunos matriculados. Foi um sucesso, para uma escola iniciante e particular. 


Os desafios maiores começaram a surgir justamente após o início das turmas. De uma certa forma era fácil admitir novos alunos, porém extremamente difícil mantê-los ativos e aprendendo. Tivemos que aprender a  lidar com um típico problema da educação: a evasão escolar. Em busca de soluções, implementamos diversas estratégias. Tivemos algumas tentativas e erros, mas com o tempo pegamos o jeito para não sofrer tantas baixas.


Algumas mudanças que promovemos para evitar a evasão escolar:


  1. Por incrível que pareça o preço do curso influencia na importância que os alunos dão ao curso. Aumentamos o preço a cada semestre, para então chegar a uma parcela 150% superior ao preço inicial. Nesse patamar os alunos tinham mais resistência para fechar o contrato, mas quando fechavam 90% estudava conosco por mais de 1 ano;


  1. Estabelecemos a remuneração variável da equipe pedagógica. Existiam aproximadamente cinco metas semestrais. As metas atribuídas a cada professor e coordenador eram conectadas com os objetivos da empresa.  Entre as metas estava a assiduidade dos alunos e meta de rescisão contratual por semestre. 





O resultado dessas medidas foram surpreendentes e conseguimos resolver um dos maiores desafios de instituições educacionais. Além de inovar no mercado, com a premiação por performance para os professores e coordenadores que entregasse o resultado esperado. Nosso programa de remuneração variável se tornou um forte aliado na retenção dos professores.  

3 Saída da sala de aula e foco na gestão


No primeiro momento lecionava aulas de inglês e francês e contava com um professor adicional. Não demorou muito para que percebesse a necessidade de contratar um professor adicional para me substituir em todas as aulas. Não poderia administrar a escola e dar aulas ao mesmo tempo. Somente eu poderia liderar a minha empresa. 


Foi uma decisão difícil, deixar a sala de aula e me concentrar na gestão. No lugar de planos de aula, meus desafios modificaram e passaram a ser: contratação e treinamento de professores, avaliação e motivação dos professores, satisfação do aluno e coordenação pedagógica. Além, é claro, de todas as outras áreas da empresa.



Um homem adulto lendo scripts de videos que ele está gravando.
Acervo pessoal. Max estudando na Believe


4 Aprendendo a vender 


Você pode imaginar que estas foram as barreiras mais difíceis de superar, entretanto, caro leitor e leitora, não foram. Se houve algo que foi extremamente difícil do início ao final foi o comercial. Até aquele momento minhas experiências profissionais tinham sido todas em gestão e finanças, nenhuma com comercial e marketing. De modo que foi um desafio contínuo para mim vender. 


O processo de vendas é um dos mais complexos e difíceis de se fazer um bom trabalho. Ao menos em minha vivência.  Como me acostumava a pensar nas vendas enquanto números, tinha o preconceito de que “era fácil vender”. Doce ilusão. As relações humanas são surpreendentes e entender as razões que um prospecto considera para fechar negócio com você é altamente desafiador. 


Me frustrava frequentemente quando fazia uma apresentação da escola e do curso e simplesmente o prospecto não fechava o contrato. Foi algo que tive que aprender a trabalhar internamente.


O tempo aliado a disciplina em estudar e aprender com o cliente e com os recursos de educação sobre o tema, ficou cada vez mais claro para mim como deveria vender, a ponto que as metas de vendas já não representavam uma insegurança para mim. 


Considero que aprender a vender foi uma das lições mais difíceis, porém é meu grande aprendizado com o fato de ter tido a minha própria empresa.


Entender melhor como funciona o departamento comercial, me proporcionou uma visão holística das empresas. Consigo entender detalhadamente as engrenadas do marketing e comercial, além da vivência em gestão e finanças.


A Believe foi um grande MBA da vida real. 

Posso afirmar com toda certeza que a visão e consequentemente a abordagem de um consultor empresarial que já teve seu próprio negócio é completamente diferente daquele que aprendeu suas habilidades a partir de uma perspectiva únicamente academia ou consultiva. Colocar a pele no jogo faz toda a diferença para a visão de mercado e negócios dos consultores.

Eis aqui algumas lições aprendidas na área de marketing e vendas:


  1. O cliente quer sentir que está comprando e não que você está vendendo para ele; 

  2. Vender serviços é conectar-se com as emoções e aspirações do público-alvo; 

  3. Vender não é explicar como seu serviço funciona, mas: se conectar com o prospecto;

  4. É crucial estudar antecipadamente o público alvo e entender se está dentro dos planos dele a necessidade ou desejo do seu serviço, além é claro se ele tem o capital e o tempo disponíveis para investir (existem públicos que não têm essa combinação, nesse caso é melhor focar em outro público);

  5. Pensar que você tem um serviço de qualidade não vai gerar vendas, entender como seu serviço se conecta com a realização dos objetivos do público alvo deve ser o foco;

  6. Vender serviço não essencial geralmente envolve um ciclo de vendas longo (a pessoa não decide comprar na hora) e concorre com outros setores, como bem-estar  e entretenimento;

  7. O valor da marca tem mais peso do que os serviços em si. As pessoas compram os valores que a marca entrega;


Hoje em dia, a minha interação com líderes, gestores e empresários é pautada por essa experiência. Entendo a dor que é vender. Com isso, consigo interagir de maneira mais eficaz e auxiliar de maneira global a empresa progredir.


5 Os múltiplos papéis do empreendedor


À medida que o negócio crescia, as responsabilidades, a equipe e os desafios também seguiam essa tendência. Me lembro que a gestão era meu foco principal. Acreditava que era a partir da boa gestão que o negócio iria prosperar. 


Enquanto empreendedor, a maioria das atividades se concentram em você. Você é ao mesmo tempo: i) o investidor, pois você precisa de capital para montar o negócio e capital de giro para tocar a operação, ii) você é o executivo que irá liderar a empresa, iii) na grande maioria do caso você também é os gerentes que deveriam existir abaixo de você.


Normalmente no início de pequenos negócios o empresário não tem capital disponível para contratar todas as posições recomendadas. Logo, o estresse está em conciliar todas essas posições. A única forma é realizar uma boa gestão de cada área. O que é altamente complexo e cansativo. 


A maneira que encontrei foi desenvolver políticas internas com o detalhamento dos processos das áreas de negócio. Deste modo, conseguiria repassar minha visão da empresa para os assistentes, professores e coordenadores. Foi preciso mapear os processos de negócios e treinar a equipe para executá-los bem. 


6 A vulnerabilidade na construção da equipe


No dia a dia, um detalhe importante e persistente me acompanhava. Nós, seres humanos, não somos máquinas, programáveis e passivas. Somos personalidade, emoções e limitações. Em gestão de pessoas, esse foi um dos pontos mais vulneráveis, pois essa parte me deixava ansioso, cansado e estressado. 


Como sabe, em ambientes coletivos é natural que apareçam desavenças, competições, intrigadas, amizades que ultrapassam as responsabilidades. Não posso dizer que me sinto preparado para lidar com essas questões, acho que não existem fórmulas que possam ser replicadas a cada situação. Entretanto, posso compartilhar como se sucedeu a minha experiência.


Minha solução para alinhar a emoção, a personalidade e as limitações de cada membro da equipe foi  acompanhar de perto os processos e os relacionamentos interpessoais da equipe e atuar pontualmente e(esperançosamente) assertivamente. Ficava sabendo de tudo o que ocorria na empresa e isso incluía as intrigas, confusões amizades que corrompiam os processos e assim por diante. 

Conversava frequentemente com a equipe, explicando exatamente o que esperava dela e como os processos da empresa deveriam ser seguidos. Fazia reuniões entre aqueles que atuavam de maneira desalinhada. Conversava sempre. Apesar de contar na época com um time pequeno de 8 pessoas. Situações desagradáveis eram rotineiras e isso me cansava enormemente. Não é uma área que gostava de trabalhar. Seria melhor contar com profissionais mais experientes, mas um empreendedor pequeno como eu, não tinha as condições necessárias para contratar só gente experiente. 


De um certo modo, acredito que obtive sucesso na construção do time, afinal conquistei a confiança de 8 pessoas, para dedicarem seu tempo e energia em prol da Believe. Isto me deixa orgulhoso, mas o desafio de gestão de pessoas em pequenos negócios é gigante e você deve se preparar psicologicamente e emocionalmente para isso.


7 A pandemia de COVID019, digitalização e internacionalização


A pandemia de COVID-19 afetou imensamente a Believe. Os cursos passaram do presencial ao on-line. Os alunos não mais se encontravam no ambiente físico da escola. Foi uma das fases mais difíceis do negócio. Perdemos alunos no início do processo, mas depois conquistamos mais, totalmente no digital.


A pandemia acelerou a digitalização da empresa. Com a digitalização veio a internacionalização. Recebíamos alunos que estavam cansados dos portais de idiomas on-line onde o aluno assiste somente a vídeo-aula. Conquistamos alunos da Irlanda, Reino Unido e Canadá.


Nosso marketing e comercial deixava de ser regional e passamos a focar no perfil ideal de aluno no Brasil ou em qualquer outra parte do mundo. Iinvestimos intensivamente na criação de conteúdo para o site. Com o tempo, o site começou a receber mais visitas do que uma rica concorrente de nome parecido. Eles ficaram incomodados e iniciaram um processo de direito de uso de marca contra a Believe. 


Em meados de 2021 e 2022, os alunos da escola eram de diversas partes do mundo. Tinham um nível de compromisso adequado com seu desenvolvimento. 


8 Decisão de encerramento 


Continuava com um contrato de trabalho CLT no AgroGalaxy, enquanto coordenador de controladoria. Estava prestes a iniciar como Controller Financeiro na Lallemand. Sabia que meu novo trabalho iria exigir muito de mim. Estava exausto dos últimos anos à frente da empresa e com um trabalho CLT. 





Seria necessário bastante investimento para que a empresa decolasse. Investimento de tempo, treinamento, paciência e dinheiro. De algum modo entendi que meu momento à frente de um negócio na área de educação havia terminado. Cinco anos passaram e ainda sentia que seriam necessários a mesma quantidade de tempo para que o retorno começasse a aparecer. 


Foi fácil perceber que tinha chegado a hora de parar. Só que não foi fácil administrar tudo para que o encerramento acontecesse. Foi necessário um ano para que tudo se encerrasse da melhor maneira possível para todos envolvidos. Claro que um ponto ou outro não saiu da maneira que desejava, mas fico com a consciência limpa em ter cumprido todos os contratos ativos que tínhamos na época. 


Decidi priorizar minha carreira de executivo e consultor empresarial. E vejo que este foi o caminho correto. Hoje me sinto realizado por ter tido um negócio na área de educação e feliz com todos os aprendizados que tive enquanto pessoa e profissional. Se hoje estou à frente de grandes empresas, seja como executivo ou consultor. Carrego a certeza de que foi a Believe a ponte que me ligou ao meu trabalho de hoje. 



Uma equipe de profissionais de uma escola de idiomas. Estão reunidos na recepção da escola.
Acervo pessoal. Equipe Believe Escola de idiomas.


8 Considerações finais 


Espero que essa história seja útil a você. Busquei apresentar os fatos da maneira mais transparente possível, para que você perceba o que significa empreender no Brasil. É claro que em uma única publicação não poderia compartilhar toda a gama de erros e acertos que tive, mas tenho certeza de que aqueles mais significativos foram descritos aqui. 


Compartilhe comigo sua opinião sobre o tema, comentando abaixo.


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