Como o programa social “Menor Aprendiz” ajudou a transformar minha história
- Maxmilliano Reis
- 19 de abr. de 2021
- 5 min de leitura

Quando criança, meus pais e grande parte dos meus familiares, trabalhavam em profissões operacionais como costureira, pedreiro e operador(a) de máquina, no geral, profissões com baixa compensação financeira e que demandam uma esforço físico tremendo.
De alguma forma, naquela época, sabia que desejava algo mais... algum trabalho que se encaixasse mais com minhas inclinações de nerd (rsrs). De qualquer forma, não tive opção, quando completei 14 anos comecei a ajudar meu tio João na sua borracharia, aprendi a tirar, remendar e retornar os pneus.
Apesar de gostar dos trocados que ganhava ao final da semana, sentia que aquele tipo de trabalho não seria pra mim. Foi então que surgiu uma oportunidade “diferenciada”, dessa vez para ser auxiliar autoelétrico na oficina de um outro tio (Miguel), nessa oficina tinha mais demanda e, eu poderia aprender mais, pois o volume de clientes era maior e a diversidade de problemas com seus automóveis, também.
Aprendi a trocar lâmpadas, testar fusíveis, retirar e consertar alternadores e motores de partidas de carros e caminhões. Era interessante aprender sobre a engenharia por trás daquelas máquinas e sistemas, ali também comecei a aprender sobre atendimento ao cliente, mesmo que timidamente.

Nessa auto elétrica do meu tio Miguel, fiquei por mais ou menos 1 ano, eu gostava um pouco mais do que a borracharia, mesmo assim, me sentia limitado e novamente que aquele não era meu ambiente. Reclamava muito para minha mãe (Marlene), que generosamente conversou com minha madrinha Lúcia, na época ela trabalhava na Irmãos Soares.
Minha mãe, pediu em meu nome, uma vaga para trabalhar na mesma empresa que minha madrinha. Em um bendito dia minha mãe apenas disse:
"Sua madrinha falou que é pra você ir lá na Irmãos Soares conversar com a Dra. Dalva (gerente de RH)”.
Fiquuei sem entender e, perguntei, mas pra quê mãe? Ela disse: “sua madrinha Lúcia, vai conseguir uma vaga pra você lá”. Eu quase morri de alegria, sabia que minha tia trabalhava no escritório, com ar-condicionado e se vestia elegantemente.
Quase não dormi a noite. Alguns dias depois fui fazer o que seria minha primeira entrevista de emprego com a Dra. Dalva. Como minha madrinha havia me indicado, a entrevista foi bem rápida e no geral apenas recebi orientações de como seria a minha integração com a empresa.
Ela disse que eu deveria fazer um curso durante 1 mês na Fundação Pro-Cerrado antes de começar a trabalhar na empresa. O fato é que eu não esperava que esse curso preparatório na Fundação Pro-Cerrado, iria me apresentar ao mundo dos negócios. Aprendi tanta coisa no curso, que guardo boa parte das lições daquelas aulas até hoje. Me lembro que estudávamos sobre ética, leis trabalhistas, comportamento empresarial, etiqueta e comunicação.
"Estudávamos sobre ética, leis trabalhistas, comportamento empresarial, etiqueta e comunicação"
Antes desta entrevista não tinha conhecimento do que vinha a ser o programa menor aprendiz, foi por meio do curso que aprendi sobre a lei do aprendiz e, soube que a Fundação Pro-Cerrado era uma intermediadora do contrato entre a empresa contratante e, o aprendiz. Aprendi que as empresas precisavam cumprir uma cota mínima de menores aprendizes.
Na época não entendia muito bem, todo o significado que o programa representava na minha vida (e na vida de tantos outros jovens), apesar saber que aquela seria a oportunidade de transformar minha história.

Pensa comigo: uma criança da classe operaria ter a oportunidade de ser apresentada ao complexo mundo empresarial, que em geral exige formação superior, é um grande fator de mudança social. O simples fato de o jovem começar a vivenciar o mundo empresarial nessa idade mostra a ele, que é possível crescer na carreira e fazer um futuro diferente para si.
Cumpri todo o período de contrato aprendendo e trabalhando no departamento pessoal da Irmãos Soares, aprendi muito com meus colegas e, fazia questão de ajudar todos, pois assim aprendia mais e as pessoas começavam a confiar em mim.
Na época meu salário era a metade de um salário-mínimo, pensei em comprar algumas roupas e gastar o dinheiro com coisas de adolescentes, mas de alguma forma tinha percebido que apenas a educação iria me elevar para um patamar profissional e social, mais confortável.
"Apenas a educação iria me elevar para um patamar profissional e social, mais confortável"
Desta forma, resolvi investir todo meu salário em um curso profissionalizante no CEBRAC, esse curso durou 1 ano e meio, mas eu aprendia tanto e, tinha a oportunidade de colocar tudo em prática no dia seguinte.
O curso buscava preparar o aluno para trabalhar em posições administrativas no geral, então as disciplinas cobriam: escrita fiscal, financeiro, introdução a contabilidade, técnicas

administrativas, etiqueta profissional, redação empresarial, marketing pessoal, relação interpessoal, etc.
A partir do aprendizado que fui tendo no curso me sentia cada vez mais preparado para executar as funções. Desta forma, passei por todas as áreas do departamento pessoal e conseguia entregar um trabalho eficiente e dentro do prazo e, mesmo que eu ainda fosse muito jovem, meus líderes (Dioneia e Valdir) percebem meu esforço e dedicação e me promoveram a estagiário ao final do contrato de menor aprendiz (ai que alegria!), era mais 1 ano de trabalho garantido e, meu salário era quase 1 salário mínimo... Já tinha ganhado um aumento!
Foi com esse salário de estagiário que pude começar a pagar por minha formação superior em Administração de Empresas na Faculdade Padrão em Goiânia. Dessa vez não todo o salário iria para a educação, mas 50% dele sim!

Ao final do estágio fui promovido mais uma vez na Irmãos Soares para Auxiliar Administrativo, carteira assinada, CLT, salário maior... Uma alegria! Nessa época começou a sobrar uma graninha, decidi comprar meu primeiro veículo, uma moto Yamanha YBR novinha.
De acordo com meu histórico social, o futuro desenhado para mim seria trabalhar como técnico autoelétrico (um trabalho digno e valioso), ter uma vida tranquila em Goiânia, sem recursos para conhecer outros estados, países e viver experiências internacionais, mas graças ao novo universo aberto por meio do programa de aprendizagem que passei, pude construir um futuro diferente daquele esperado de um jovem de origens humilde coma a minha.
Em resumo, desde que entrei para o Pro-Cerrado minha vida nunca mais foi a mesma e, pude alçar voos maiores, depois da Irmãos Soares, tive experiências incríveis na TendTudo e na Ernst & Young, viagem para diversos países a trabalho e a turismo, conquistei mais promoções e experiências inimagináveis, mas essa parte conto depois em outros textos.
Ser menor aprendiz é uma oportunidade de mudança de vida, quem sabe aproveitar pode ir longe. Sou extremamente grato a minha mãe, minha madrinha, a Irmãos Soares, a Fundação Pro-Cerrado e a lei do aprendiz, pois foi a partir desse programa social governamental que a minha vida mudou positivamente para sempre.
Não sei exatamente quem vai ler esse artigo, ou como essa história pode te inspirar, mas sei que entrar para o Pro-Cerrado e ser menor aprendiz na Irmãos Soares foi o fator decisivo para que eu me tornasse quem eu sou hoje.
Minha família e eu passamos a ter acesso a experiências e perspectivas de vida que antes, simplesmente, não poderíamos perceber. Conto minha história no melhor sentimento de partilha e, espero que ela te inspire de alguma forma.
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