Evite erros no processo seletivo... avalie a governança
- Maxmilliano Reis
- 24 de jul. de 2024
- 5 min de leitura

Como a governança corporativa pode auxiliar na contratação de pessoal. Mesmo que, a sua empresa atual não tenha alto nível de governança. Saiba como a governança influencia e determina o nível de experiência dos candidatos e como você pode relacionar experiências prévias dos candidatos e identificar sinergias com a sua vaga/empresa.
No mercado de trabalho o conhecimento é circular. Quando contratamos um novo profissional experiente, ele ou ela adentra a empresa com sua bagagem de conhecimento adquirido no decorrer dos anos.
O que bons recrutadores fazem é avaliar o nível de aderência da experiência dos candidatos com os requisitos mínimos necessários para a vaga em questão. O conhecimento é medido por meio de entrevistas e testes.
Em meu dia a dia, vejo algumas empresas que confiam, apenas na entrevista e/ou indicação dos candidatos para contratar alguém. Postergando a avaliação do conhecimento técnico para o período de experiência. Em um passado não muito distante, também atuei dessa maneira, pois facilita demais a vida. Ter uma pessoa ali na equipe para dividir as demandas, de maneira rápida é uma alívio, uma vez que as demandas são muitas.
Depois de muito apanhar com contratações baseadas na sinergia que alguns candidatos apresentam no momento da entrevista, passei a realizar testes técnicos e comportamentais relacionados aos pontos chaves de um cargo.
Quando apertei a régua, percebi que alguns candidatos faziam excelentes entrevistas, mas na hora de testar o conhecimento técnico, falhavam drasticamente. Essa situação me impactou pois, como pode uma pessoa fazer uma excelente entrevista e um péssimo teste técnico? Somos nós recrutadores cativados por um certo tipo de narrativa?
Tais perguntas permearam minha mente por alguns dias. Resolvi escrever e conversar com você a esse respeito. Conte para mim (e para os demais leitores), o que você acha, comente abaixo. Será uma satisfação receber sua contribuição.
Continuei minhas interpelações intimas e percebi que, cada candidato vem de uma escola diferente. Cada pessoa entende um assunto de maneira muito particular e de acordo com o contexto em que ele ou ela está ou esteve inserido. Por isso, alguém que se sente confiante, faz uma ótima entrevista, pois de fato ela ou ele domina o contexto que ela ou narra.
Se o candidato e candidata dominam os processos existentes em seu contexto, consegue interagir bem comigo, em uma entrevista, por que ele e ela performa pobremente nos testes técnicos? Intrigante.
Vamos ampliar o espectro, pensando um pouco sobre a governança, que pode estar presente ou não em uma organização. Apesar de haver no mercado padrões de gestão e controles internos para serem seguidos por uma generalidade de sociedades, apenas algumas os seguem. Geralmente as empresas não adotam o padrão de gestão recomendado.
De modo que duas empresas do mesmo setor, de tamanho e processos similares, não terão nem de perto controles de gestão padronizados. Cada empresa, possui seu próprio sistema de crenças/valores e em última instância sua cultura.
O que os candidatos narram nas entrevistas, é resultado da experiência vivida em um contexto cultural, que pode se repetir – infelizmente pelo lado da “não governança” ou “não gestão.
Para auxiliar na visualização do que acabei de dizer vamos tomar a seguinte situação exemplo:
Na empresa hipotética Latim S/A, o departamento de crédito é levado a sério, possui reuniões mensais com a diretoria para discutir as análises e concessões de crédito do mês, os diretores se envolvem. A análise de crédito é feita com base na análise documental, checagem de referências e principalmente no relacionamento pessoal com os clientes.
Basicamente as definições de limite de crédito são feitas respeitando a seguinte regra: os documentos comprovam a existência da empresa, a regularidade fiscal perante o estado, a ausência de negativações de crédito e julgamento pessoal do cliente, o crédito é liberado, de acordo com uma perspectiva de “confiança” subjetiva dos gerentes comerciais e ou diretores.
Mensalmente o que é revisto, é o quanto o julgamento dos tomadores de decisão estava assertivo ou não. Um analista de crédito que trabalhe na Latim durante 2 ou 3 anos de experiência irá se sentir expert em análise de crédito.
Vejamos o caso da Ferraz Ltda (empresa hipotética), o crédito também é levado a sério. Para isso a direção decidiu possuir uma equipe composta de gerente, coordenador e analistas. Formados em Administração. Os cargos de gestão devem ter experiência comprovada no segmento. A empresa possui todas as políticas de negócio documentadas e integradas na rotina dos departamentos, inclusive a política de crédito, que é conceitualmente revisada pela gestão, sistematicamente.
As equipes comercial, financeira e administrativa respeitam a política de crédito, que está inclusive amarrada com a política financeira, para gestão eficiente do fluxo de caixa. A análise é feita sobre o prisma do risco, onde primeiramente os riscos inerentes ao proponente são avaliados, são validados os documentos, a análise dos indicadores financeiros, por meio das demonstrações financeiras é obrigatória.
Existe uma escala de aprovação, em conformidade com o nível de risco de cada proponente. Os aspectos mercadológicos da região são analisados e por final toda a operação do proponente é revista, do ponto de vista risco versus retorno na concessão de limite. Um analista que trabalhe aqui se sentirá experiente após 2 ou 3 anos.
Em ambos os casos, os analistas são experientes, porém o nível de governança de cada empresa do exemplo é igual? Não. A Cerrado S/A optou por um controle informal, embora pareça formal. Enquanto a Ferraz, optou por controle de governança, estruturou com base em uma política de crédito em linha com as práticas de governança adotada pelo mercado e com a própria empresa.
Vejamos o caso da Leia que trabalhou na Cerrado, será que ela terá uma boa experiência, caso seja admitida na Comercio Ferraz? Conseguirá ela apresentar bons resultados. É bem possível que não. Ao menos no primeiro momento. Agora, vejamos o caso do João, que trabalhou na Ferraz, ele terá uma boa experiência na Cerrado? Novamente, é bem possível que não.
Cada empresa adota uma estrutura diferente para conceder o crédito. De acordo com a literatura da Administração, o mais indicado, por ser o mais seguro, é o método aplicado pela Comercio Ferraz, especialmente para empresas grandes (acima de R$300 milhões de faturamento), onde uma, única inadimplência impacta pesadamente no fluxo de caixa, ou um erro conceitual/sistemático (julgamento pessoal), pode acarretar sérias consequências para o futuro do negócio.
A Ferraz possui um nível de governança alto em sua estrutura de negócios, de modo que o analista formando nessa escola (empresa), estará mais apto para trabalhar em outras empresas que também adotem a governança como premissa.
A lição que tiro dessa história é de que, além de contratar candidatos, também contratamos o ambiente cultural no qual ele ou ela esteve nos anos anteriores. Contratar um novo profissional envolve riscos que podem ser simbolizados pelo exemplo que lemos acima. Um erro na contratação torna-se demasiadamente prejudicial para a operação como um todo.
É claro, que tanto a Leia com o João, dos exemplos acima podem buscar conhecimento técnico fora do contexto em que estão inseridos e assim se prepararem para atuar de maneira satisfatória em qualquer empresa. Mas isso é outra história, o autoestudo no Brasil, está fora de moda, mas ainda existe. Uma exceção, mas existe.
Essa reflexão me ensinou a refletir fortemente sobre o cenário de governança em que os candidatos estão inseridos, antes e durante um processo seletivo e, analisar a experiência dos candidatos sob a ótica da governança.
A rede de relacionamentos tem um importante papel nessa iniciativa, pois nós, gestores, necessitamos estar contato com nossos pares de outras empresas para entender o nível de governança dos concorrentes, pois eventualmente iremos admitir algum ex-colaborador(a).
O que você pensa sobre o assunto? comente abaixo. Já viveu uma história parecida?
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