O mundo novo (digital) que todos nós estamos criando, conscientes ou não.
- Maxmilliano Reis
- 16 de mai. de 2024
- 7 min de leitura

Ensaio sobre as mudanças sociais provocadas pela tecnologia digital. Internet, Redes sociais, Dados, Perigos digitais, Manipulação social, Evolução e Devastação.
1. Um passado sob análise, a virada do milênio
O ano era 1999, eu voltava para casa, após meu último dia de aula no Colégio Estadual Edmundo Rocha em Goiânia. Esse dia me aproximava da virada do milênio. Havia, uma grande expectativa que as máquinas não funcionassem mais, a partir de 2000, pois muitas delas foram configuradas com datas até o ano de 1999. Os telejornais não falavam de outra coisa: a virada do milênio e o que deveria acontecer no novo século.
Fato é que nem de perto as previsões acertaram o que de fato está acontecendo neste momento. Não era possível prever que a internet ligaria todos os seres humanos de maneira imediatamente, facilitando comunicações pessoais, empresariais, governamentais e associativas. Não foi possível prever o surgimento de grandes empresas da tecnologia como a Meta, Google, Amazon, Tiktok e outros.
O novo modelo de negócio inaugurado pelo Google era, algo imprevisível. Quem imaginaria que teríamos serviços digitais gratuitos: pesquisas on-line, e-mails, mapas online, armazenagem em nuvem etc. Uma série de serviços digitais que antes eram cobrados pelos provedores de serviços. Logo no início do século, tudo era (e continua sendo) de graça.
A meta, por sua vez, nos ofereceu através do Facebook e agora o Instagram, a possibilidade de nos aproximarmos de pessoas queridas que, independentemente se elas estiverem próximas ou a quilômetros de distância. Gostamos dessa proximidade e colocamos o maior número de dados em nossos perfis e postagens de nossas redes sociais, para alcançar o maior número possível de conexões ou seguidores.
Em retrospectiva, consigo entender que era razoável todo o frisson causado pela virada do milênio, pois 24 anos depois, o século XXI representa uma nova era na evolução humana, a era da tecnologia digital. Presenciamos um dos momentos mais emblemáticos de uma revolução, a própria ocorrência dela.
A partir dos dados que oferecemos às diversas bigtechs (grandes empresas da tecnologia) atuais e futuras, possibilitam que tais empresas elaborem uma série de serviços, produtos, pesquisas e novas tecnologias a partir de tais informações, que todos concordamos em fornecer, quando assinamos os termos de serviço das plataformas e aplicativos. As empresas coletam, armazenam e pesquisam todos dados que oferecemos a elas, tantos os factuais e os intangíveis, dados sobre nossa personalidade, hábitos de compra, brechas que podem ser desenvolvidas pelos adquirentes dos dados.
2. O futuro já é o presente, avanços tecnológicos inimagináveis
Em 15 de abril de 2024, eu participava da primeira aula da disciplina “Direito digital aplicado a educação”, com a estimada professora Camilla Jimene na PROINFO - FIA Business School . Confesso que não esperava muito da aula, pois minha expectativa era de receber informações quanto direito autoral e direitos de imagem na internet. Acontece que esta aula foi uma explosão de informações extremamente relevantes sobre como as tecnologias digitais estão mudando o mundo, a sociedade. Eu posso dizer agora, que fiquei embasbacado. É a única palavra que consegue se aproximar de como me senti.
A professora apresentou uma série de conteúdos que promoveram uma compreensão sobre o que está acontecendo agora no mundo: uma verdadeira revolução, que inaugura uma nova era da evolução humana.
Os dados que ofereceremos às plataformas e aplicativos, tais como google, facebook, instagram, tiktok e diversos outros, oferecem uma verdadeira análise detalhada sobre o tipo de personalidade que cada ser humano possui. Conhecendo a nossa personalidade as plataformas são capazes de vender basicamente, qualquer coisa (produto, ideia, serviço, propaganda, educação etc.) para o tipo correto de personalidade.
Não nos damos conta, mas quando realizamos pesquisas no google, ele armazena esses dados e constrói uma personalidade ligada as nossas buscas, os lugares que visitamos, as fotos que tiramos e postamos no google mapas etc. O Google também, têm o perfil de personalidade para cada um dos seres humanos na terra. Esses dados estão sendo comercializados para os anunciantes dessas plataformas. Cada vez mais serviços, produtos e propaganda serão personalizados e fáceis de adquirir, comprar.
O metaverso, algo que parecia estar tão longe de nós, hoje é uma realidade nos jogos on-line. Pode-se comprar armas, ferramentas, roupas e outros apetrechos que facilitem e evolução dos jogadores nos jogos, há um verdadeiro mercado do metaverso acontecendo agora. Começam a surgir os jogadores on-line profissionais. Campeonatos municipais, estaduais, nacionais e principalmente internacionais promovem o mercado de games e alavanca o crescimento do metaverso em nossa sociedade.
O mais recente lançamento tecnológico a IA (inteligência artificial) modificou boa parte da estrutura conhecida da organização humana. Atualmente, existem diversas perguntas que permanecem sem reposta em um mundo habitado por IAs. A precursora foi a ChatGPT, porém existem diversas IAs atualmente e ainda um numero maior sendo criada a cada dia. A maneira como a inteligência artificial afetará nossa sociedade, ainda está longe de ser apresentada ao grande público, mas ela está mudando a forma como estudamos, trabalhamos e nos relacionamos.
Carros elétricos, são uma realidade em nossa rotina. Empresas como a Tesla e BYD estão dominando o mundo com seus veículos alimentados por energia. Os drones estão assumindo mais e mais atividades. Na China já é possível encontrar drones entregadores e bombeiros. Ônibus e trens conduzidos por inteligência artificial. Máquinas agrícolas sem condutores humanos, controladas por IAs. Auto serviço em restaurantes, cafeterias, supermercados etc.
3. Uma nova dimensão de problemas sociais advindos da evolução digital
Os impactos sociais causados pela tecnologia já são de longe sentidos pela sociedade. Nas indústrias automobilísticas a substituição de homens por máquinas é uma rotina. A implantação de cobrança eletrônica em ônibus da rede pública de transporte deixou milhares de homens e mulheres desempregados.
Entretanto, o maior risco de todos são os dados e a maneira como eles são utilizados.
As empresas os utilizam para transformar a sociedade com a pesquisa e desenvolvimento de produtos e serviços disruptivos.
Mas, os dados também podem ser utilizados por criminosos que chantageiam e roubam de indivíduos e empresas. Os cibercrimes se tornaram uma realidade. Todos nós conhecemos alguém, ou fomos atingidos por cibercriminoso. O mais comum é a utilização da engenharia social para roubar dinheiro de nossos amigos e familiares.
Mas, acredite este não é o maior risco de todos. A verdadeira mudança social que está em curso é a alocação de pessoas em grupos onde o interesse, hábitos e ideologias são validadas constantemente pelos membros dessa comunidade, administrada pelo algoritmo. Esse agrupamento, faz que apenas conteúdo que o grupo goste ou idealiza seja consumido.
Construindo, uma realidade virtual paralela. O que é muito sério, pois criam-se diversos grupos com suas respectivas realidades, o que leva ao levante popular que vemos hoje na política ao redor do mundo. As pessoas estão menos flexíveis, pois têm suas crenças constantemente validadas.
Este contexto, abriu caminho para uma das manipulações mais problemáticas da nossa era, trata-se da Cambridge Analytica que foi contratada para promover mudanças de mentalidade nos eleitores, para votarem em Donald Trump nos EUA. Diversos outros políticos, também contrataram os serviços da Cambridge Analytica que basicamente manipulava a mentalidade dos eleitores a votarem nos candidatos deles.
Os algoritmos oferecem as bolhas ideológicas, então a Cambridge Analytica preparava uma seria de ações digitais para manipular eleitores. A partir dos dados de personalidade coletados pelas bigtechs. O caso foi investigado pelos governos dos EUA e UK e culminou na falência da empresa Cambridge Analytic. O risco é de que a privacidade de nossos dados seja utilizada inescrupulosamente por instituições e pessoas.
Existem diversos outros perigos relacionados a evolução tecnologia, mas acredito que os exemplos citados acima demonstram a seriedade do momento que vivemos.
4. Um futuro próximo, evolução e devastação
Diferentemente de 1999, o futuro não parece ser tão difícil de ser previsto. As tendências já estão postas a nossa frente, em nossa mesa de jantar, em nossos computadores e dispositivos eletrônicos de modo geral. A tecnologia já está presente em nosso dia a dia e continuará cada vez mais próxima do nosso universo pessoal, familiar e social.
A coleta de dados está cada vez mais próxima, sendo efetuada por: smartphones, watches (relógios digitais), óculos digitais, internet e redes sociais. a previsão é de que os humanos passem a conviver com personagens fictícias que passarão a compor a rotina de nossa vida. Imaginou sendo atendido em um posto de gasolina por uma personagem baseada em IA?
A educação deve ocorrer por ambientes virtuais, no metaverso onde os avatares representarão os alunos. Dando maior interação a experiência educacional, mesmo que os estudantes estejam a quilômetros de distância. Situações típicas do mundo real serão também transportadas para o mundo digital. O preconceito, racismo, patriarcado, imperialismo etc. Enfim uma gama de dificuldades que já são difíceis de serem tradas no off-line serão adicionadas a realidade virtual.
A diferença entre o real e o virtual ficará mais difícil de ser realizada. As IAs, conseguem produzir conteúdo audiovisual que é difícil assumir o que determinada pessoa disse ou não.
A geração digital, nascida após 2000, não recebeu instruções suficientes para lidar com certos desafios éticos, não estão necessariamente preparados para as frustrações da vida diária do mundo real. Estamos criando um exército de adultos despreparados para a vida adulta, que apesar de tecnologia continua sendo desafiadora do ponto de vista emocional. Essa geração não teve contato com o dinheiro físico, haverá uma dificuldade de ensinar educação financeira, o dinheiro é um conceito fluído. Quais os impactos sociais, as decisões de compra dessa nova geração causarão?
A IA deve assumir boa parte das ocupações atuais que não necessitarão mais de um contingente enorme de humanos. Os países subdesenvolvidos ou emergentes (caso do Brasil), não conseguiram preparar seus cidadãos e cidadãs para o trabalho na era digital, logo o avanço da tecnologia deve aumentar a desigualdade social no mundo.
5. Considerações finais
Espero que assim como eu, você também tenha ficado espantado com a nova realidade em que nos encontramos. A evolução é bela, mas trás consigo certos desafios, difíceis de solucionar. Não existe uma solução para os desafios vindouros. É triste perceber que o lado mais fraco, aparentemente, levará a pior desse “progresso”. Me parece que estamos caminhando para uma era da organização digital da sociedade. Os governos estão perdendo seu poder, a justiça precisa se adaptar ou será ultrapassada.
Apesar de toda essa evolução e este cenário a foça humana é grande. Podemos também, evoluir e respeitar o direito humano. Milhares de pessoas podem ficar desempregadas, mas quais são as vantagens desse possível acontecimento? O trabalho será, de fato, necessário? Não haverá trabalho para todo mundo. Os desempregados viverão como? com renda mínima? paga por quem? até que ponto é digno viver uma vida no mínimo? Essas e outras questão ficam orbitando em minha mente. Espero um dia encontrar, não só respostas, mas também soluções.
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